"Ter um passado"
... Não vai sair hoje e está acabado, dizia vó Irene quando eu aprontava e levava umas "porradas" e puxões de cabelo que, diante da educação e dos valores que existiam naquela época, me faziam amá-la ainda mais. Só que para eu poder sair e me divertir, como qualquer criança da minha idade que brincava na rua, eu tinha a interferência de uma "pessoinha" romântica, já na infância, e até tímida demais. Refiro-me a minha amada irmã Mariângela!
Nossa história começou na tenra infância em Bento Ribeiro e na Pavuna, onde brincávamos e passeávamos bastante, também em Sepetiba e, quando nos era permitido, mais para a adolescência, nos bailes do Caiçara e do Náutico. Ainda muito jovem, ela se apaixonou por um amigo meu de infância chamado "Vagô" e eu pela Lucinele, a partir daí ficávamos consolando um ao outro para que não ficássemos tristes porque naquela época ainda se apaixonava de forma bastante romântica. Mas o tempo passou e no início dos anos 1980, devido a morte do querido tio Levir, moramos na mesma casa para que ela estudasse no Externato São Judas Tadeu e pudesse tirar seu curso de normalista. E conseguiu. Me recordo de um fato que marcou demais a nossa infância nessa época, foi no meu aniversário de 15 anos quando meu pai me deu um aparelho Walkman com toca fitas e rádio AM e FM e, num belo dia, mais especificamente numa sexta feira, após a meia noite, eu estava na calçada da minha casa, na Pacheco da Rocha, quando começou a tocar duas lindas canções de um "tal de Beto Guedes" (ali começava a mudar a minha vida) que se chamavam "A página do relâmpago elétrico" e "Feira moderna". Danou-se, acordei a Mariângela e combinamos de ir a Madureira no Sábado pela manhã para comprarmos aquele disco e, deu no que deu, não parei mais e ela ia atrás até porque não tinha outra opção. rsrsrs...
No período da novela "Roque Santeiro" (coincidentemente reprisando agora) ela, assim como eu, nos apaixonamos por uma canção cantada pela Nana Caymmi chamada "Fruta mulher", foi aí que ela conheceu a paixão de verdade e seguimos românticos até hoje, quando sua passagem por aqui se abreviou e eu tive que entender e aceitar a sua partida, por isso eu fiz esse relato aos familiares e amigos próximos, querendo dizer:
Mariângela, diante do nosso afastamento devido aos processos naturais da vida, jamais deixamos de nos amar e nos querer bem, sendo assim, minha irmã amada, oro por ti para que tenhas compreensão da sua atual existência, siga em paz e trabalhe para um novo recomeço.
"Sou fruta madura sou mais que sofrida, sou doida varrida sou mais que mulher. Bebi o passado, traguei o presente e tornei-me valente pra sobreviver". (Fruta madura - Nana Caymmi)
"... E é a luz que vai tecer o motor da lenda e um grande amor vai juntar". (A página do relâmpago elétrico - Beto Guedes)
"Ó telefonista se a distância já morreu, meu coração é novo e eu nem li o jornal". (Feira moderna - Beto Guedes)
Minha singela homenagem a uma pessoa que a tempos, quando algum dos nossos parte, eu sentia tanto.
Iran Damasceno.