"Se não terminamos o que iniciamos nesta vida,
certamente que pelas leis de causa e efeito e do amor, retornaremos, juntos ou
separados, para resgatarmos e seguirmos em busca da evolução".
Iran.
Em mais um
momento de tristeza para os encarnados, que é a “morte”, fui acompanhar o sepultamento
de um corpo, onde, durante 47 anos, habitou-o João Cabral.
Trata-se
de um homem rude, nascido no Rio de Janeiro, que logo cedo, ainda na infância,
optou por obter as coisas de forma fácil como roupas, brinquedos, tênis e
tudo o mais. Só não dava
importância às coisas importantes da vida como os valores morais e, o que não
atentava, é que sua
mãe não tinha condições de propiciar tudo àquilo que ele queria, sendo assim, partiu cedo para as ruas para tentar
consegui-las. Começou a roubar. Ainda na adolescência, por volta dos seus
12 anos de idade, interessou-se por armas, pois o que mais via no morro
onde morava, era a violência. Seu primeiro contato com uma delas
foi quando após uma “pelada” no campinho da comunidade viu um traficante
se aproximar, ao perceber seu interesse e sagacidade, o mesmo ofereceu-lhe
determinado valor para que ele soltasse fogos sempre que a policia entrasse
na comunidade, ficou eufórico, pois via ali, em uma só oportunidade, as
situações que almejava: Ganhar dinheiro fácil e estar junto àqueles a quem
ele “admirava”, juntamente com a possibilidade de usar as armas do trafico.
Teve êxito. Logo estaria atuando como “soldado”, recebeu uma arma e a
confiança do chefe, que se chamava Rafael, devido a sua dedicação e
valentia. Passou a ter o “respeito” dos outros e a inveja de alguns, o que
gerava um clima ainda pior do que o já existente. Seu primeiro teste foi trocar
tiros com a policia numa das investidas da corporação objetivando a repressão
a entorpecentes e, logo na entrada dos mesmos, conseguiu alvejar
mortalmente um policial.
Bem, a partir daí, passei a
acompanhá-lo em sua trajetória de vida e, confesso, por mais que já estivesse
em trabalho de auxilio a encarnados durante longos anos, confesso que fiquei estarrecido
com tamanha maldade e crueldade por parte daquele rapaz, não que eu esteja julgando-o,
pois meu coração estava com sentimentos de compaixão, tanto por ele, quanto por
aqueles a quem ele prejudicava e, consequentemente, a ele mesmo. Ele
cresceu e à medida que ganhava experiência em seus intentos, percebia que
poderia ir mais longe. E foi. Como havia ganhado reconhecimento de seu
grupo e causado inveja em alguns, logo teve que se livrar dos que lhe
ofereciam certo perigo. Começou a assassinar e mostrar isso a comunidade
para impor respeito, ainda que de forma cruel, o que lhe causa mais
comprometimento com aqueles a quem assassinava, bem como com as leis de divinas
e naturais. O tempo passou e ele foi ficando mais velho, como é natural no
mundo da violência e ou em qualquer situação da vida onde não haja
respeito e as coisas são sempre passageiras e pueris, ele passou a não ser
tão interessante para as pessoas e para os comparsas devido a sua conduta
violenta e cruel, o que causava desconfiança no grupo. Num certo dia, quando a policia
invadiu o morro, mais uma vez, após uma denuncia anônima, levando todo o
faturamento da semana, João ficou extremamente revoltado, pois não teria o
lucro desejado e assim ficou sem a parte do que ganhava do seu “superior”
Rafael. Não pensou de outra forma, a não ser a de assassinar o traficante
chefe, aquele que o teria recrutado para o trafico, esperou anoitecer e, de
forma covarde, desferiu oito tiros em sua cabeça. Pensou que dali em diante ele
seria respeitado, ou melhor, temido pelo grupo que o seguia. Ledo engano, ficou
mais evidente e visível a ira dos invejosos e a desconfiança dos que estavam há
mais tempo com o chefe assassinado por ele. Percebendo que não havia mais
espaço no grupo e nem na favela, tentou fugir sorrateiramente sem êxito, pois
foi pego pelos comparsas, agora rivais, e levado a um local de extermínio onde
foi barbaramente assassinado.
Portanto, esse
é o desfecho da história de um ser iludido com as coisas materiais e pueris da
vida e também do mundo do crime, terminou aqui, no plano físico, porém terá
inicio na dimensão espiritual uma longa trajetória. Estando eu em tarefa
de aprendizagem no mundo astral, me foi permitido continuar no caso João Cabral
só que agora em tarefa extremamente árdua, a de encontrá-lo e tentar orientá-lo
em suas novas provas. Vale lembrar que a situação estava mais difícil devido ao
grande número de inimigos que ele adquiriu quando em vida corpórea, o que se
agravara ainda mais na atual situação. Partimos então, Antônia e eu, para o
cemitério no qual o corpo de João seria sepultado, ao chegarmos lá verifiquei a
dor de sua mãe e de alguns parentes que, apesar de reconhecerem a vida difícil
que levou João, os mesmos sofriam por ele e por não terem conseguido retirá-lo
de tal situação. Aplicamos passes em sua mãe e seguimos para o enterro dos
restos mortais. Estávamos em oração e prontos, Antônia e eu, para agirmos
diante das dificuldades que iríamos encontrar, notamos que ao redor do
sepultamento haviam vários Espíritos desencarnados com extrema revolta, sujos,
mal cheirosos e com marcas da violência recebida em vida que acabam refletindo
em seus respectivos perispíritos, devido à falta de informação e conhecimentos
sobre a vida espiritual. Um deles falava alto e em bom tom que não adiantaria
João se demorar no corpo porque eles tinham todo tempo do mundo, o que me
causou espanto por achar que se tratava de Espíritos sem conhecimento da vida
fora da matéria, mas fui orientado por Antônia que possuía bem mais
conhecimento que eu. Disse ela: "Flávio, esse espírito que você vê
ai em oratória com extrema veemência não é um dos que foram assassinados por
João nesta encarnação, mas prejudicado em outra, antes da última. Ele está em
demora em tal situação devido a não aceitação do que lhe ocorreu, causado por
João, e por desconhecer a importância do perdão. Ao longo de décadas, de tanto
transitar por caminhos tortuosos e conhecer Espíritos com a mesma intenção,
porém, muitos bem mais instruídos que ele adquiriu conhecimentos sobre o
processo de desencarne e por isso aguardava João com certa “paciência”,
movida pelo seu ódio". Algumas semanas se passaram e notamos que
João tinha total dificuldade de desprender-se do corpo, pois tamanha era
sua animalidade mental e o sofrimento só se agravava. Chegou o momento do
desenlace, João, ainda em torpor devido às contundências da violência física
que sofreu, viu-se fora do corpo e, sem entender quase nada, saiu a
caminhar como um louco pela rua, inclusive temendo ser atropelado.
Procurou saber onde estava, mas não havia como organizar as ações devido à
falta de conhecimento e ai começou as perseguições. Ao parar para tentar
entender o que ocorria, deparou-se com seres extraordinariamente maldosos e
sedentos de vingança, que logo o pegaram e o levaram para um local de condições
precárias e de sofrimento intenso e, sem qualquer piedade, aplicaram-lhe
castigos como os que eram aplicados em períodos medievais. Seu sofrimento
tornou-se insuportável, ele queria morrer, mas não adiantava esse sentimento,
pois a morte era a única coisa que não existia para ele naquele momento, já que
sua Fé era nenhuma, viveu uma vida de ilusão e maldade sem se preocupar com o
porvir. Ele então, sem alternativa, questionou as ações imputadas contra si e
perguntou quem eram aquelas pessoas. Um dos mais revoltados e ávidos por
vingança identificou-se como “o carrasco”. João não entendeu e argumentou: “sei
que matei muita gente, mas matei para me defender, e vocês, quem são”? O
carrasco respondeu: “sou aquele que te observou matar todos eles e
te aguarda aqui do outro lado a muitas e muitas décadas”. Argumentou
mais uma vez, João: “Como assim há muitas décadas”?”E o que quer
dizer do outro lado”? “Onde estou”? Respondeu então o espírito
vingativo:“Me chamo Nicodemos, lembra desse nome”? “você deve estar
enganado, pegou o cara errado, nunca conheci nenhum Nicodemos,
continuando João”. ”E vocês ai atrás, quem são”?”estão juntos na
covardia”? Os que estavam somente vibrando com as surras sucessivas
que eram aplicadas em João, aguardavam seu momento para fazerem o mesmo,
todavia, pronunciaram-se para se identificar e contar quem eram, bem como dar a
noticia a João sobre sua morte. “E ai vacilão, quero ver tua valentia e
covardia agora, vai tentar matar alguém”? “Quanta grana tu vai ganhar
agora”?João ainda não entendia o que se passava, foi ai que
perguntou sobre uma colocação de Nicodemos que havia passado sem resposta. “Que
lugar e esse”? ”É algum morro que eu não conheço”? Nicodemos então
respondeu: “Idiota, que morro nada, você está do outro lado da
vida”. ”tu morreste”! De pronto João gargalhou de nervoso, e questionou: “morto”?
”tu ta brincando, se to morto como é que to falando contigo”? Nicodemos,
sempre a frente das respostas, respondeu: “Tu passastes tanto tempo
matando e roubando que não se deu conta que um dia ia chegar tua hora. E
ela chegou. só ta faltando uma coisa pra te dizer, e eu vou falar agora”:”
Eu sou aquele a quem causastes sofrimento após assassinares toda a
família, depois de roubar tudo que eu tinha, casa, animais, ferramentas e
o pior, matou minhas filhas depois de estuprá-las. só eu sobrevivi porque
pulei no rio e desmaiei, quando acordei e voltei pra casa, vi que todos estavam
mortos”.“A dor foi muito grande, vivi anos sem alegria e com sofrimento na
alma, até que um dia conheci uma mulher que me falou que quando a gente
morre não acaba. ”Confesso que fiquei com aquilo na cabeça o resto da
vida, sendo que em alguns momentos cheguei a ler livros sobre espiritismo
que falavam sobre vida após a morte. Ajudaram-me, mas a dor era
muito grande, até que adoeci e morri de derrame cerebral”. João
interrompeu e questionou: ”Mas eu nunca te vi na vida, como é que eu
posso ter feito isso contigo”?Respondeu Nicodemos: “tu não
sabes nem que morreu nessa vida como é que vai lembrar-se da outra”? “O
que te posso dizer é que as maldades que tu fazias continuaram nessa
agora, nasceu com as mesmas maldades e vontade de fazer os outros sofrerem.
Passei anos sem saber onde tu estavas só descobri porque teus crimes
ficaram muito falados e resolvi saber quem era esse tal de João Cabral, ai
foi que te reconheci por causa da maneira que tu tens de matar e porque
tinham outros a fim de te pegar como eu”. João voltou a falar: “Mas
eu não me lembro de você e não aceito essa cobrança, é tudo mentira tua e eu
não to nada morto”. ”Ah, não ta não”? ”Então tenta falar com tua mãe seu
otário”, falou Marcelo que aguardava sua vez para agredi-lo, pois
teria sido assassinado por João de forma cruel. ”Vamos parar de
conversa fiada e dar logo um jeito de fazer esse otário sofrer, ele ta com
muita marra”. Nicodemos intercedeu, dizendo: “Eu só
pensava que iria ter mais raiva do que to sentindo, esse canalha merece
muito sofrer, mas não vou perder mais meu tempo com ele, vou deixar pra
vocês porque já imagino o que vão fazer com ele. Quero seguir meu caminho”. Foi
ai que os Espíritos que estavam sedentos por vingança entraram em ação
fazendo coisas pavorosas. João começou a perceber o que era sofrimento e
gritava para que parassem, pois não aguentava mais. Atento a tudo isso
questionei a Antônia: "Irmã, o que será de João daqui por
diante"? Continuei: E do Nicodemos? Flávio, o João
esta entregue a própria sorte, pois é muito difícil ajudar a quem não quer
ajuda, seus pedidos de clemência são apenas para não o maltratarem
tanto. Quanto ao Nicodemos, vejo grandes possibilidades de regeneração
devido aos poucos, porém oportunos conhecimentos adquiridos durante sua
última trajetória carnal percebo nele alguma vontade de mudança até porque
já está a algum tempo em busca de vingança, o que causou-lhe um certo
desgaste. A saudade da família também o está consumindo, entretanto de
nada adianta ele se entregar aos sentimentos de ódio porque isso só ira
atrasá-lo em sua caminhada. E quanto a nós, vamos parar por aqui,
perguntou Flávio? Não, respondeu Antônia, vamos acompanhar o desfecho do
caso de João Cabral e, dependendo do que consigamos, logo precisaremos
ajudar ao Nicodemos. Então vamos ao João.
Ao nos
aproximarmos dos algozes de João, fizemos questão de nos deixarmos notar, o que
é difícil
para Espíritos em tais condições, tamanho o grau de animalidade mental, como o
já dissemos. Marcelo logo nos notou porque era o mais revoltado e queria a
vingança a qualquer custo, percebendo nossa presença perguntou quem éramos nós
e ameaçou-nos se não saíssemos rapidamente. Respondemos que estávamos ali para
estudar o caso de João, o qual estava completamente inconsciente devido à
violência dos castigos recebidos. Dissemos que estávamos também querendo
ajudá-los para que suas situações não se agravassem mais do que estava, os
marginais nos ironizaram dizendo: “ta brincando o casalzinho de branco,
pior do que esta não pode nunca ficar só queremos acabar com a raça desse
vacilão.”Continuou Marcelo a frente das ações, demonstrando nítida liderança
do grupo: “sai fora se não eu vou pegar vocês também”. Logo em
seguida ele veio em nossa direção com a intenção de nos agredir, foi ai que
mentalizamos nossas defesas e, quando ele se aproximou, levou uma espécie de
choque que o deixou atordoado ao ponto de cair no chão, ao se levantar,
questionou:“Quem são vocês”?”Que poder é esse”? E logo em seguida
correram como se estivessem correndo da policia, deixando pra trás o desmaiado
João. Foi ai que entramos em ação levando-o para um hospital perto da crosta
terrestre. Ao chegarmos lá, deixamos João em boas mãos com nossos irmãos e
partimos ao encontro de Nicodemos. Não foi difícil encontrá-lo, pois o mesmo
havia dado algumas dicas pelas suas lamentações. Ele gostava de assistir a
algumas palestras em um centro espírita próximo a favela onde morava João, ao
entrarmos em contato com nossos irmãos de lá, disseram-nos que ele havia
chegado e, pelo fato de estar cansado, deitou-se do lado de fora e adormeceu.
Chegamos e logo aplicamos um passe para
que ele continuasse dormindo e o levamos para uma colônia de recuperação. Bem,
querido Flávio, disse Antônia, nossa missão por hora acabou, vamos voltar a
nossa colônia e relatarmos aos nossos superiores o que realizamos e aguardarmos
novas orientações. Flávio, feliz por ter podido ajudar a irmãos em total
desorientação, perguntou pela última vez, antes de partir: Querida
Antônia, podemos visitá-los logo assim que tivermos tempo hábil? Surpreendentemente
respondeu-lhe Antônia: Flávio, você está apenas começando seu
trabalho no caso João e Nicodemos, a partir de agora serás responsável
pela recuperação de ambos e, quem sabe, até de auxiliar na preparação do
processo de reencarne de ambos como irmãos, em suas próximas vidas na
terra. Flávio sorriu de alegria em saber que iria ajudá-los e
agradeceu a Deus pela graça. Passado algum tempo, Antônia chamou Flávio para
ambos terem uma conversa e tentarem chegar a alguma conclusão sobre o caso de
João e Nicodemos.Querido Flávio, acho que está na hora de visitarmos a
João e Nicodemos, você não acha? Flávio respondeu com os olhos
brilhantes de alegria: É claro que acho minha Irmã. Diga, por onde
podemos começar? Antônia, num rápido olhar para o intimo de Flávio,
pensou por alguns instantes e replicou: Por você. Ele não entendeu
e logo em seguida perguntou: Por mim? Mas o assunto não é sobre
os irmãos a quem estamos atendendo? Antônia foi categórica em
dizer: Não podemos ajudá-los sem antes ajudar a você, meu querido
companheiro de tarefas e irmão em Deus. Então, perguntou Flávio? Meu
irmão, disse Antônia, tenho notado que durante todo esse tempo em que
estamos juntos tentando ajudar a esses irmãos tão desorientados moralmente
falando, que estas bastante interessado em ajudá-los, não que eu duvide da
sua capacidade de amar ao próximo, pelo contrario, estas aqui por esse
motivo. Como que num lampejo de idéias e emoções Flavio despertou para
algo que não havia pensado. Sua quase fixação no caso, diferentemente de outros
tantos que já havia trabalhado com Antônia. Lembra-se quando Nicodemos,
ao falar de suas filhas, você se emocionou bastante, perguntou Antônia? Lembro-me
e não consigo tirá-lo de meus pensamentos desde então, comentou Flávio. Então,
para que possamos nos aproximar novamente de ambos, se faz necessário seu
equilíbrio emocional, ponderou Antônia. O diálogo ficou por ai e ambos
partiram para o local de orações na colônia em que eles vivem e trabalham. Após
a oração ambos foram chamados pelo irmão que supervisionava os trabalhos,
chamado Benedito, que os orientou da seguinte forma:Queridos, sei que estão
se dedicando ao Máximo no caso de João e Nicodemos, porém vale lembrar que a
ajuda maior será dada no momento certo, pois entendo que agora seria
melhor que ambos buscassem a sala de estudos e entrassem na tela para
reverem alguns aspectos dos procedimentos tomados por ambos quando nas observações
da narrativa de Nicodemos, lembram-se? Flávio, aflito, perguntou: Meu
irmão, porque ao ouvir as narrativas de Nicodemos eu me emocionei de tal forma
que não prestei a atenção no que dizes? Ai está o porquê de minhas
orientações quanto ao fato, entendo que para ajudá-los, antes precisa
estar em equilíbrio e atento a tudo, do contrário podes por tudo a perder.
Espero que me tenha feito entender. Claro que sim querido Benedito. Então,
vão e busquem as informações necessárias para que possam continuar
os trabalhos que estão desenvolvendo brilhantemente. Deus abençoe a todos
nós. Assim seja, responderam Flávio e Antônia. Logo em seguida
partiram para a sala de estudos onde reviram por varias vezes, de forma
minuciosa, os momentos da narrativa de Nicodemos. Flávio, em tal momento,
emocionou-se novamente, perguntando em seguida a Antônia: Irmã, porque
cada vez que assisto as cenas me identifico mais com Nicodemos e não com as
meninas suas filhas, por exemplo? E outra: Quando ele relata o
fato de João ter estuprado e assassinado suas filhas, confesso que na hora
fiquei com a sensação de revolta e até mesmo ao ponto de sentir algo que não
sinto. Raiva!Porque seria isso, Antônia?Preocupada mas satisfeita com
os primeiros resultados do trabalho na sala de projeção, respondeu ela, de
forma contundente: Você já se preocupou em saber sobre algumas de
suas passagens em outras vidas? O que realizou? Com quem viveu? Sim, já tive
inclusive algumas informações sobre algumas delas. Os casos em que trabalhou,
qual deles mais lhe causaram certa impaciência em defini-lo? Flávio
respondeu rapidamente: Sem dúvida alguma que o de João e Nicodemos.
Mas, porque me perguntou isso Antônia? É pelo simples fato de você não ter
prestado a atenção ao caso de estar tanto tempo nessa história;
Não questionar quem são os personagens e porque eles se entrelaçam num
emaranhado de situações aterrorizantes. Pois então me fale, Irmã. Você
descobrirá por si próprio, respondeu Antônia. Quando, perguntou
Flávio? Agora mesmo, vamos até o local onde está Nicodemos e saberemos
a verdade. Vamos até lá, e os detalhes serão passados na hora certa. Enquanto
viajavam no aeróbus durante um tempo considerável, Flávio era só preocupação e,
ao perceber isso, Antônia, pegando em sua Mão, comentou: Querido, já
estivestes em casos de extrema dificuldade, portanto não será agora que
irás se abater com mais esse, não é mesmo? Flávio respondeu de
forma contundente, como se já adivinhasse o que viria pela frente: Concordo
com você Antônia, sei que estou diante de uma prova bastante dolorosa
para mim, pois agora atentei ao fato de estar tão envolvido no caso como
nunca estive em nenhum outro. Então relaxe e medite enquanto viajamos.Foi
o que Flávio fez, orou bastante e refletiu sobre os acontecimentos. Chegamos,
informou-lhe Antônia. Mas que lugar é esse, perguntou Flávio, não
foi aqui que deixamos Nicodemos da última vez? Respondeu Antônia,
rapidamente: É verdade, ele se transferiu para Ca, pois precisava dos
serviços que aqui oferecem e também sabe que estamos para encontrá-lo. É
mesmo, perguntou espantado, o ansioso Flávio? Vamos entrar. Ao
entrarem foram recebidos pelos Irmãos Regina e Gustavo, Médica e Psicólogo,
respectivamente, os quais receberam-nos com todo carinho.Como vão
queridos, fizeram boa viajem? Muito boa, respondeu Antônia com o balançar
de cabeça de Flávio, que se limitou a ficar calado. Foram
convidados a entrarem em uma sala e, ao chegarem, viram-se frente a frente com
Nicodemos que lhes sorriu amavelmente. Flávio não se conteve e, pois-se a
chorar. Abraçado por Nicodemos teve uma espécie de sentimento fraternal e ambos
choraram juntos. Flávio, ao refazer-se, questionou o porquê daquilo e foi
prontamente respondido pelos irmãos Regina e Gustavo: Querido e
amado irmão, não poderia ser diferente em caso de reencontro após longa
data, pois quando pessoas que se amam se reencontram, sempre há esse tipo
de sentimento você não acha, perguntou Gustavo? Como assim, perguntou
também o assustado e confuso Flávio? Pessoas que se amam e se reencontram?
Mas eu só estive com Nicodemos algumas vezes e não faz tanto tempo, não é
mesmo, questionou o já desconfiado Flávio? Antônia entrou na conversa
e finalmente proferiu as palavras necessárias para que Flávio entendesse: Olhe
nos olhos de Nicodemos Flávio, e veja se não o reconhece. Pense no momento
em que se emocionou quando ele relatou seu sofrimento quando na morte de
suas filhas. Sem deixar mais que Flávio falasse alguma palavra sequer,
Antônia revelou: Vamos abraçar nosso pai querido, meu irmão. Flávio teve
um choro convulsivo e,sem que ninguém esperasse, abraçou Nicodemos e
Antônia de forma conjunta dizendo: Obrigado, oh Deus, eu sabia que não era
por acaso que eu precisava estar neste caso. Mas e você Antônia, era
minha Irmã amada, que sofreu todos aqueles momentos comigo e não me falou
nada. Respondeu Antônia sem pestanejar: Não se tratava de contar e sim de
descobrirmos com nossos corações e, a melhor forma que Deus entendeu que
deveríamos descortinar a verdade era nos reencontrarmos e trabalharmos
juntos.
Nicodemos
disse que ao partir naquele momento em que desistiu de se vingar de João, foi
justamente pelo fato de querer encontrar suas filhas tão amadas e que a
vingança não resolveria
nada, apenas o afastaria ainda mais dos seus intentos.
Graças a
Deus estamos juntos, falou Antônia, mas agora existe outro momento no qual precisamos
nos concentrar Flávio, questionou Antônia: Precisamos ir ao encontro de João. E nossa
tarefa, você se lembra? Claro que sim. Vamos então. Nicodemos perguntou a eles: queridos
filhos, eu poderia ir com vocês? Para alegria de ambos, responderam juntamente: Claro que sim papai, somos ou não somos uma família unida?
Deram
gargalhadas e partiram para a nova tarefa, felizes da vida.
Iran Damasceno.