terça-feira, 4 de março de 2014

"O Túnel"


"O carnaval dos desafortunados"

Faltava menos de uma semana e eu já estava atento e até mesmo muito ansioso para o carnaval, preparava minhas malas e ações para curtir aqueles quatro dias mais intensos de todo o ano. Mas, como um ser anestesiado pelas conquistas imediatas das paixões afoitas e passageiras, na sexta feira anterior ao sábado de carnaval, eu não pude aguentar e aí fui "aquecer os tamborins", como dizemos na gíria. Sai com amigos baladeiros como eu e já começamos aprontando das nossas. Na animação inconsequente com a galera eu me empolguei e me dirigi a uma garota que não parava de me olhar e resolvi investir nas "pegadas" que damos uns nos outros, foi aí que passamos a nos beijar e ficamos juntos até umas quatro horas da manhã, a partir de então a dispensei e fui em busca de outra conquista (aquela afirmação de jovem e homem inconsequente) mas, para minha admiração, uma gata maravilhosa estava com um grupo de outras garotas e eu cheguei com ar de arrasador fazendo logo um convite para que ela saísse dali e fosse comigo tomar algumas bebidas alcoólicas com energéticos. Beleza, ela aceitou e ficamos doidos até quase o meio dia do dia seguinte e então resolvemos nos despedir para nos encontrarmos novamente no mesmo sábado a noite. Foi o que aconteceu, porém o que eu não sabia era que ela escondia um segredo, ou seja, estava separada de um policial violento da localidade que a estava procurando mas ela não queria mais nada com ele. No mesmo dia a noite nos encontramos e ficamos curtindo nosso início de carnaval, todavia a partir da madrugada de domingo ela não se sentiu bem e eu me ofereci para levá-la até sua casa, e foi o que fiz. Ao chegarmos lá eu não reparei que havia um carro parado próximo a sua residência e, ao pararmos, saltou um cara com uma arma na mão e ao se aproximar não deixou nem que eu falasse nada, disparou três vezes sobre mim, onde dois tiros me acertaram a cabeça mortalmente. Ali terminava minha existência atual diante dos meus vinte e três anos de idade.


Fiquei completamente atônito por não saber o que havia me acontecido, só me recordo do cara entrando em seu carro, levando a menina com quem eu estava e aí uma espécie de tonteira e dores na cabeça tomaram conta de mim. Ao acordar percebi que as dores estavam se intensificando e o lugar já não era o que eu fui alvejado, notei que eu havia sido levado para uma espécie de túnel escuro e fétido, entretanto o que eu não sabia era quem havia me levado. Fique atordoado com as dores na cabeça e no estômago, até porque o terceiro tiro havia me acertado na barriga, mas eu comecei a observar que o local era estranho e eu nunca havia passado por lá e a partir de então notei um homem, já com os seus cinquenta anos de idade, deitado mais a frente e foi aí que resolvi perguntar que lugar era aquele. Ele me olhou por alguns instantes, e falou: "Mais um sem saber o que aconteceu". Fiquei ansioso e perguntei o que estava acontecendo comigo e ele foi direto ao assunto: "Você morreu e está numa espécie de UMBRAL, só que esse daqui é um "especial", que existe para atender aos babacas como nós que se suicidam". Fiquei assustado e respondi que eu não havia me suicidado e somente me lembrava de ter sido atingido por alguns tiros, foi aí que ele foi mais contundente: "Cara, aqui não tem conversa fiada e a lei do mais forte é quem manda. Você morreu assassinado como a maioria aqui, só que muitos de nós é considerado suicida porque buscamos essa situação por não termos tido "freio", entende"? "Eu mesmo vim parar aqui através de uma overdose de bebidas e drogas e desde que aqui cheguei, a mais ou menos uns dois meses, assim eu acho porque me lembro que quando morri era próximo do natal e agora estão chegando mais pessoas fantasiadas, estou sem forças pra nada". Fiquei completamente atordoado e queria voltar para minha casa mas não tinha a menor condição física e psicológica, até porque meu corpo agora era diferente. Tentei deitar para descansar mas não dava porque toda hora chegavam pessoas embriagadas e drogadas fazendo algazarras, um barulho ensurdecedor e aí minhas dores aumentavam. Quando eu vi uma luz ao fim do túnel tentei me aproximar mas ainda não possuía condições devido aos ferimentos, mas foi aí que vi a única pessoa que cheirava bem e se vestia de maneira mais limpa do que todos ali e eu então perguntei o que estava acontecendo comigo, para ter uma resposta simples mas consoladora ele se aproximou, e me disse: "Olá Marcelo, como posso ajudá-lo? Fiquei assustado porque não imaginava como aquela pessoa que eu nunca vi poderia saber o meu nome, foi então que ele me falou que eu precisava relaxar por causa dos ferimentos. Perguntei novamente porque não estava entendendo nada e aí ele me disse que tínhamos que sair dali assim que eu quisesse, portanto fiquei confuso porque o que eu mais queria era sair daquele túnel horroroso. Ele pediu a minha atenção, e disse: "Estavas em ações de difícil entendimento durante o seu desencarne porque havia ingerido muito álcool e se drogado, portanto a morte do seu corpo foi traumatizante e assim ficastes com as marcas da agressão". Mas porque eu morri daquela forma, perguntei curioso? "Tem coisas que ainda não estas em condições de saber e o melhor agora é um paliativo para suas dores serem amenizadas, até você querer sair daqui". É a segunda vez que você fala em sair daqui mas eu já disse que quero, então porque não saímos? "Tente e verás". Me levantei e fui para a porta do túnel mas, ao me aproximar, perdi as forças e tive que voltar.  O que estaria acontecendo com Marcelo? Saberemos na segunda parte.

Iran Damasceno. 


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