sexta-feira, 13 de maio de 2011

" O Que É Felicidade "? (O psicanalista e o paciente inconsciente)




Qual de nós seria capaz de arriscar uma opinião sobre a felicidade? Quando poderíamos atestar que um indivíduo está fora da realidade ou vivendo de forma errada? Se não nos vestimos bem ou não seguimos padrões sociais, somos pobres ou infelizes? Se você ainda não tem resposta, acompanhe a história que irei lhes contar, todavia, se tiver dúvida se é ou não verdadeira, consulte um Psicanalista ou a sua própria consciência. Vamos a ela:

Um jovem senhor de mais ou menos 45 anos trabalha como porteiro em um condomínio de luxo em um bairro da zona sul do Rio de Janeiro, seu nome é Joaquim Severino, mora na Baixada e é pai de quatro filhos, ganha pouco mais de um salário mínimo, recebe uma cartela de tickets no valor de R$ 12.00 diários e um Riocard. Ótimo, está empregado. No mesmo condomínio reside o Dr. Afonso Gherman, psicanalista de família tradicional de Petrópolis, austero e crítico em relação ao que não gosta ou entende ser errado, estudou em Harvard, fez doutorado na França, possui um consultório em um dos prédios mais caros do Rio, tem por hábito conversar com Joaquim devido ao fato de o humilde porteiro, quando solicitado, falar dos seus problemas e de sua maneira de ver a vida, certo dia o Dr. convidou-o para um bate-papo no play ground e o psicanalista, sedento em estudar o caso que, em princípio tinha a ver com sua tese de pós-doutorado, (avaliar o comportamento de pessoas que estejam na pobreza) começou uma alegre e descontraída conversa, utilizando-se de "técnicas psicanalíticas" para tentar extrair respostas espontâneas do "paciente" indireto, sem que o mesmo percebesse nada. Perguntou: Joaquim, a vida está difícil, não acha? Respondeu-lhe o porteiro: É doutor, está difícil pra muita gente, mas da pra viver, né? Como assim da pra viver, você acha que andar de ônibus cheio e apertado, ganhar uma miséria de salário e morar longe como moras, da pra viver? Claro Dr., o ônibus a gente acostuma, ajeita daqui, ajeita dali... O Sr sabe né? Ou melhor, desculpe, não sabe não. O salário eu tento dar outro jeitinho fazendo uns bicos nos horários quando não to aqui, pintando uma graninha a mais eu faço uma "farrinha" com a patroa e as crianças se não, compro umas cervejinhas e umas azinhas de galinha pra fazer um "surrasquinho", pego "uns DVD di pagodi", chamo o "cumpadi" Jorge e a coisa fica boa. É só felicidade!
Curiosamente o estarrecido psicanalista, diante das suas surpresas, continuou com as argumentações: Mas e a saúde da sua família, caso alguém fique doente como você faz, se não tem plano de saúde? Vamos pra "upa", levo bastante biscoito e refresco, porque só vamos ser atendidos umas cinco horas depois, e aí as coisas andam...
O curioso Dr. que nasceu em "berço de ouro", não sabe o que é problema social e financeiro, indagou outras questões que gostaria de ouvir do surreal (segundo sua ótica) Joaquim: O que é felicidade pra você? Desta vez foi direto e contundente tamanha era sua falta de condição em entender como pode uma pessoa ser ou estar, em tamanha miséria. Respondeu o otimista, na condição de porteiro: Dr., felicidade é gostar da vida como ela é, das pessoas como elas são, eu tenho a natureza a me agradar quando eu vou à praia, pescar no rio perto de casa, jogar sinuca com a rapaziada, tomar umas cervejinhas, sentar na calçada e bater papo furado com os vizinhos... Isso é felicidade Dr.
Bem, estava terminada a "pesquisa" que Afonso fez na intenção de colher dados para sua tese de pós-doutorado, todavia, a partir dai ele informou a sua mulher que jamais subestimaria mais a ninguém e, muito menos analisar a distância, sem perceber a realidade de perto.

Leitor, a síntese da história que contei foi baseada em fatos reais (presenciados por mim) apenas criei algumas personagens para dar um ar de "novela" e, com isso, chamar a sua atenção para uma possível reflexão.

Abraços fraternos e, O que é felicidade?

Iran Damasceno.

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